Ok! Sei que essa critica ao filme, veio um pouco tarde, levando em conta que o filme é de 2005. Mas antes tarde do que nunca...
Antes de continuar. Aqui vai um aviso para os fãs do filme: É MELHOR PARAR POR AQUI. Vocês não vão gostar nada do que vão ler. Se decidirem continuar é por sua conta e risco...Aviso dado vamos adiante.
Neste filme combater as forças das trevas é um mero trabalho de
meio-expediente e o próprio Demônio não passa de uma mistura caricaturesca de
pai-de-santo com o Cascão: é sujo, ignorante e mesmo quando ganha faz papel de
bobo. É uma criatura tão pouco expressiva que parece que sua maior dor de
cabeça é um simples mortal metido a macumbeiro chamado John Constantine,
interpretado pelo especialista em ludibriar o Maligno (vide Advogado do Diabo), Keanu Reeves. Ao
longo de duas horas de filme, John Constantine, com uma facilidade incrível,
exorciza e explode demônios menores, passeia pelo inferno como quem vai ao
shopping, frustra os planos do Anticristo, engana o Beiçudo em pessoa e ainda
por cima o manda tomar naquele lugar. Não tem o menor respeito nem por seus
poderes, que deveriam ser grandes, nem por sua astúcia, que deveria ser
incomparável, ou mesmo por sua idade, que deve de ser contada em milhões de
anos. Enfim, em Constantine, Ele é um
zero a esquerda. No máximo uma artimanha de roteiro para dar brilho às
aventuras do herói.
E até aí temos um problema. Isto porque
o John Constantine de Keanu Reeves nem de longe lembra o “verdadeiro” John
Constantine, protagonista da série de revistas em quadrinhos para adultos Hellblazer, criado por Alan Moore. E não
me refiro ao fato de que o ator é americano e moreno, diferentemente do
personagem que é inglês e louro (um tipo de Sting decadente), como boa parte
dos fás acertadamente tem reclamado. Não, estas mudanças são apenas mais um
exemplo do quanto às engrenagens da indústria do cinema podem desfigurar uma
ótima matéria-base, visando garantir alguns dólares a mais no mercado
estadunidense, ignorando o resto do mundo. A questão aqui é que o John
Constantine dos quadrinhos é um cínico fumante inveterado, dono de um código de
ética bastante maleável, que não o impede de ser capaz dos maiores sacrifícios
pela família que lhe restou e por alguns de seus poucos amigos. É amoral,
beberrão, maltrapilho, descarnado, despenteado, mal-cheiroso e ainda assim, por
incrível que pareça, contrabalançando tudo, mantêm certa fleuma britânica,
visível principalmente através de seu senso de humor negríssimo. Disto tudo
Reeves só manteve um detalhe: o de fumante inveterado. E, como se sabe, no
cinema e no teatro, o cigarro é conhecido como a mais obvia “muleta” dramática
conhecida. Se o ator não consegue dar profundidade a um personagem, faz dele um
fumante: pelo menos as mãos vão estas ocupadas. Neste caso específico, Reeves
não interpreta: usa seu já lendário conjunto charme-beleza-carisma no piloto
automático. Parece ser o suficiente para a maioria na platéia.
De forma inexplicável Reeves e o
diretor do filme, o estreante Francis Lawrence, fizeram do bom-canalha John
Constantine um mauricinho superficial. Está sempre tristinho, coitado. Pede
pena da platéia, pois apesar de ser um pouco rude é um bom-samaritano nato.
Quer salvar o mundo todo, e não apenas a si mesmo e a seus eleitos como sua
versão “adulta” dos quadrinhos. É um típico herói de cinema, igual a muitos
outros. Essa inversão é tão evidente, que pode ser notada até mesmo na relação
de John Constantine com suas roupas. Em Hellblazer
ele esta sempre vestindo o mesmo sobretudo surrado. No filme o engomado Reeves
reclama quando um de seus aliados, um feiticeiro negro chamado papa Meia-Noite,
estraga sua camisa branquíssima, lavada com sabão Omo Alvejante, resmungando
que é “uma camisa de 200 dólares”. O “verdadeiro” Constantine gastaria este
dinheiro comprando cigarros sem filtro, apesar de estar com câncer no pulmão.
Aliás, a história do filme é uma
pasteurização da saga Hábitos Perigosos,
onde John Constantine descobre que de tanto fumar desenvolveu câncer.
Desesperado, mas com um plano na cabeça, vende sua alma para três entidades
demoníacas diferentes, na tentativa de salvar sua pele. Consegue, pois sua
morte deflagraria uma guerra no inferno pela posse de sua alma. O que levaria o
Céu à vitória. Sem escolha, um dos demônios o cura (da forma mais dolorosa
possível) e Constantine se torna o “homem que não pode morrer”. Garanto:
trata-se de uma história sutil e engenhosa. Aposta mais na sugestão do que no
terror explícito. O contrário de sua versão em celulóide. Nela o enredo é o que
menos importa. Toda sutileza foi substituída por pirotecnia. Diferente dos
quadrinhos, o filme é visual, não intelectual. Os quadrinhos são para adultos,
o filme para adolescentes.
Só isto explica o fato de que no cinema
um doente terminal pula, luta e corre como se fosse um atleta disputando uma
final nos jogos olímpicos. No terceiro terço do longa, Reeves transforma seu
personagem em uma espécie de misto de Rambo com Caça-fantasmas. Com o detalhe
de que não usa aquelas impagáveis mochilas com feixes de prótons e sim uma
ridícula metralhadora em forma de cruz. Esta arma excêntrica, somada a presença
desperdiçada da Lança do Destino (a lança que o São Longuinho dos três pulinhos
teria usado para perfurar o corpo de Jesus de Nazaré durante a crucificação) e
de uma drag queen que garante ser o
arcanjo Gabriel, transformam o final de Constantine
em um festival de luzes e sons. Toda verossimilhança (notem que nem mesmo usei
a palavra lógica) é jogada fora e passa a valer a “lei do efeito especial mais
forte”. São explosões para todos os lados.
Se você é fã dos quadrinhos, passe longe desse filme!!!
@Coelho
sábado, 5 de janeiro de 2013
CONSTANTINE O FILME
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